O Artesanato é uma expressão da cultura popular. Esta resulta da interacção contínua entre pessoas que vivem numa determinada região, num determinado tempo abarcando um conjunto complexo de padrões e crenças de um povo. Surge pela necessidade que o Homem tem de se adaptar ao ambiente que o circunda e abrange diversas áreas do conhecimento entre as quais o Artesanato.
“A obra de arte popular constitui um tipo de linguagem por meio do qual o homem do povo expressa a sua luta pela sobrevivência. Cada objecto é um momento de vida. Ele manifesta o testemunho de algum acontecimento, a denúncia de alguma injustiça.” In Aguilar, Nelson (org). Mostra do Reconhecimento: arte popular. In: BEUQUE, Jaques Van de .Arte Popular Brasileira, p. 71.
Esta é simultaneamente conservadora e inovadora, pois está ligada à tradição mas absorve novos elementos que surgem com o tempo. A sua imaginação vem dos acontecimentos corriqueiros. Em suma é um modo de diferenciar e classificar um povo, dando tom e cor a uma determinada sociedade e abrangendo um modo de vida.
A arte da cestaria é uma arte milenar, praticada desde os primórdios da civilização. Utilizando diversas técnicas, a cestaria foi utilizada por todos os povos em redor do mundo com inúmeros fins: armazenamento e transporte de alimentos e outros bens, fabrico de adornos pessoais, revestimentos de casa, etc. O modo de produzir, a decoração e a utilização das cestas varia de acordo com cada país, região, povo, costumes e tradições.
Não existe contudo comprovação histórica sobre o seu inicio. Estudos levados a cabo por alguns pesquisadores, revelam que existem muitas fontes sobre a sua origem:
- Indígena – Estes povos produziam cestos para transportar objectos ou para armazenar alimentos, também trançavam pulseiras, cintos, colares, faziam armadilhas para a pesca, etc.
- Nómada – A necessidade que estes tinham de transportar e armazenar alimentos levou-os à procura de soluções para o problema, o que levou ao surgimento da cestaria.
- Persa – Alguns escudos utilizados no Batalhão Persa dos Imortais foram feitos em cestaria.
- Ibérica – A Vila Gonçalo (freguesia portuguesa do Concelho da Guarda) foi o berço da cestaria em Portugal e Espanha.
Esta é a arte de moldar fibras, Num sentido mais amplo, podemos afirmar que a cestaria é arte de criar objectos ou utensílios, obtidos através de fibras de origem vegetal. Para o seu fabrico, são utilizados dois modelos:
- O modelo entrelaçado – de tipo cruzado, encanado, enrolado ou torcido.
- O modelo espiral – que inclui ou não a armação ou sustentação.
Estes dois modelos são muito populares e obedecem essencialmente às particularidades da fibra usada no seu fabrico. Consoante a utilização pretendida, os objectos alternam em tamanho e formato, bem como a técnica utilizada para a sua manufactura, podendo afirmar-se que as peças são executadas em função da sua funcionalidade.
Em Portugal, a cestaria tem as suas raízes na cultura castreja, arte que se mantém até aos nossos dias. È uma das actividades do artesanato tradicional português que se associa ao dia a dia das regiões onde é manufacturada, embora nos dias de hoje seja essencialmente usada no fabrico de peças decorativas. O fim a que as cestas se destinavam, assim como as matérias-primas disponíveis em cada região (vime, palha de centeio, canas e junco) determinavam as especificidades dos cestos.
Cantanhede é um dos muitos exemplos em Portugal da riqueza cultural do Artesanato, actividade que contribui para a preservação das tradições mais genuínas.
Em Ançã (aldeia cuja fundação é atribuída a 8 monges Beneditinos, enviados pelo Patriarcado do Oriente, no século VII. Ainda hoje conserva algumas actividades tradicionais quer a nível gastronómico, os bolos de Ançã são muito afamados e no artesanato com as peças de cantaria, tanoaria, cestaria, faiança, latoaria e ferraria), vila do concelho de Cantanhede reside um artesão, Victor Prates, de 77 anos que começou a trabalhar numa quinta aos 10 anos e aí observava os outros trabalhadores a fazerem os cestos, acabando por aprender a arte e nunca mais parou. Recorda também a altura em que para aumentar os seus parcos recursos ia para as quintas onde manufacturava os poceiros em verga (a cestaria grossa utiliza espécies arbóreas autóctones, sendo de grande utilidade nas tarefas agrícolas) utilizados nas vindimas.
Em suma, a cestaria que se fazia representar por uma infinidade de objectos, formatos e feitios diversos continua a ser nos nossos dias, uma actividade indispensável na economia da vida rural e domestica. Hoje podemos usufruir da arte em cestaria de variadíssimas formas: cestos para lenha, cestas, abanadores, canastros e objectos de decoração como por exemplo jarras, terrinas, tabuleiros, pratos, mobiliário, etc.